TUDO NO DEVIDO TEMPO
Nesse mundo que os cristãos dizem ser obra de Deus, os
muçulmanos de Alá, os cientistas do Big Ben e, o Papa diz que este também é
obra de Deus e, várias outras filosofias; tudo tem seu devido tempo:
. Como ainda fetos nos úteros de nossas mães temos que
esperar o nono mês para nascer e deixarmos aquele mundo molhado por onde
habitamos por ¾ de ano ligados a um cordão umbilical que nos alimentávamos.
. Quando criança ficamos ávidos para que a juventude chegue
logo para podermos namorar, beijar e podermos ter nossa primeira experiência
sexual – como será e com quem? Certamente a maioria já tem alguma garota em
mente, só o pai dela não pode sabê-lo.
. Quando adolescentes cansamo-nos facilmente de sermos
chamados de meninos e, queremos logo sermos tratados como adultos e, sempre
temos um exemplo a seguir: ser um adulto como é o seu pai, ou padrinho, ou
aquele tio que você admira.
. Quando adultos recém saídos da juventude, somos
considerados muito jovens para determinadas tarefas, o que nenhum de nós, na
oportunidade, concordávamos. Mas os
tempos agora são outros, nessa fase são agora os da geração Y – bem cotados e
por vezes chefes dos chamados maduros.
. Quando maduros começa uma preocupação interminável até o
último dia de nossas vidas, ou seja, o envelhecimento, coisa que ninguém quer
para si, que o seja para os outros. É tão latente essa psicose do
envelhecimento, que todos fazemos dela chacotas como uma forma de relaxar a preocupação
e a realidade das rugas nos rostos, nas mãos, do botox aplicado nos lábios e
nas maçãs da face, nas plásticas feitas e uma infinidade de outras coisas
milagrosas que alguns fazem, como dietas, ginasticas, ioga ...
. Quando efetivamente envelhecemos começamos a ocultar nossas
idades e quando questionados fazemos as famosas chacotas e mentimos ou
desconversamos e, as mulheres invariavelmente mentem suas idades e, claro que
para menos. Sentimos, nessa fase, uma sensação de perda – do tempo que passou e
não volta mais. Uns até conseguem sobreviverem bem nessa situação e outros não,
talvez a maioria. Alguns querem provar a si mesmos e também aos outros, de que
estão tão bem quanto aos jovens e, começam a fazerem atividades, então fadadas
aos jovens, que as levam a exaustão e correm até o risco de sofrerem um enfarte
ou uma queda fatal, como por exemplo ir a um baile e dançar a noite toda, ou
saltar de paraquedas, ou atravessar um rio à nado, ou surfar e outras
travessuras mais.
. Quando velhos esperamos por algo que nunca iremos
conseguir, pelo menos nessa encarnação, que seria termos o nosso próprio
cantinho, uma casa ou apartamento que por pequeninos que sejam, mas somente
nosso, como no passado todos tivemos.
. Quanto mais velhos formos ficando mais desejos vão aguçando
nossos poucos e lúcidos raciocínios – são coisas que antes nos eram simples e
não tínhamos a menor percepção de quão valiosas são, como ter com quem
conversar e que te ouçam...usarmos cuecas e calcinhas como sempre as usamos e
não esses fraldões vergonhosos que somos forçados a usarmos por incontinências.
. Quando as doenças chegam, e invariavelmente chegam, com o
passar dos anos, se não morrermos antes, levarão-nos para as camas. Ai sim
sentiremos vontade de voltarmos ao passado e não mais de pularmos no tempo para
o futuro.
. Tudo tem seu devido tempo, até a hora para morrermos com
dignidade. Esse certamente será o nosso último desejo e o derradeiro tempo.
Crônica de
Gilson Marcio Machado
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