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CIGARRAS
DAS MADRUGADAS
Acordei-me novamente, já é a terceira vez nessa madrugada de
primavera e, ainda não passa das 02h30min - achei por bem levantar-me de vez e
dedilhar alguns pensamentos, afinal há dias não escrevo, exceção àquela crônica
sobre minhas expectativas quanto a cirurgia que deverei fazer nos próximos dias
– mas esse é outro assunto, não daqueles que queira tocá-los agora ...
Adoro escrever de madrugada, certa feita já comentei sobre
isso, foi no livro de ficção O Pio da Coruja. Todo escritor gosta de escrever
na madrugada, pois é um dos momentos em que você está receptivo às emoções que
a vida pode proporcionar-lhe; em alguns seus pensamentos divagam pelos
enigmáticos chiados de cigarras que nossos ouvidos captam no silêncio inocente
das noites, que ao certo são imaginários, devendo ser algo patológico, mas
assim as parecem: cigarras cantantes e saltitantes, numa orquestra que rompe o
silêncio das escuridões de noites sem luar, que até agradariam aos vampiros e
lobisomens dos folclores dos homens!
“Assoviar e chupar cana” ou “caminhar e chupar sorvete” não
são tarefas que todos possam realizá-las com facilidade. Escrever e conversar
são as mesmas coisas, portanto, como requer concentração, inspiração,
elucubrações e outras emoções mais, melhor escrever quando só e no silêncio,
mesmo com os chiados de cigarras.
Minhas melhores ideias que se tornaram literatices ocorreram
nas madrugadas. Abro o aplicativo Word do Office Windows, olho sua tela branca
no monitor do meu PC e faço uma viagem aos meus instintos e deixo os dedos
acompanhar meu cérebro e começo a formular o texto, logo tornando-o numa
construção literária e aí é só divagar na ideia e deixar sua mente aberta aos
seus sentimentos; não diferente ao compositor que se senta ao piano e começa a
dedilhar novas combinações de notas criando novas composições. Alguns preferem
escrever com uma música relaxante num fone de ouvido, que embriaga o cérebro do
escrevente misturando os chiados de cigarras, com o fundo da música zen e,
melhor ainda se tiver o som de água corrente, o que aguça ainda mais sua
criatividade. É um momento uno, embriagante e mágico: a madrugada, o silêncio,
as pautas musicais, o pensamento flutuando nesse espaço, como se toda a nossa
vida assim o fosse, não verdade o é, nós é que a complicamos e poluímos por
demais os meios ambientes quando se faz dias, nas suas manhãs, tardes e noites
– resta-nos as madrugadas, dessas não abrimos mãos.