terça-feira, 31 de janeiro de 2017

O MURO DA VERGONHA

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O MURO DA VERGONHA
 
Isolar um país vizinho, fronteiriço, é vergonhoso, pois cercar, confinar ou cercear a liberdade de ir e vir não é coisa que se faça com seres humanos, e sim com animais – e mesmo assim olhe lá. A depender do país, pode constituir crime, incluindo o Brasil. Defender suas fronteiras é uma prerrogativa de toda nação, mas fazer um muro? Aliás, é assunto que já rendeu muito, pois 33% deste muro já existe desde a época de Bill Clinton. O que Trump vai fazer é murar o que falta, ou seja, 67% da fronteira. E o excêntrico deste seu programa é que ele vai murar e quem vai pagar, segundo ele, é o México. O presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, cancelou visita que faria hoje aos EUA, após anunciar que não pagará nenhum muro.

Os estadunidenses, num sistema eleitoral estranho para a maioria dos países democráticos, elegeu o empresário milionário Donald Trump apesar de a maioria dos cidadãos norte-americanos terem preferido a candidata democrática, Hillary Clinton. Episódio quase igual ao vivido por George Bush e Al Gore nas eleições do ano 2000, como este próprio se apresenta em suas palestras sobre o efeito estufa: “Sou Al Gore, quase presidente dos EUA” (obs.: as palestras são feitas mesmo). É comum, na política americana, líderes criados pela indústria cinematográfica de Hollywood virem a ser políticos e interpretarem seus papéis de “mocinhos”, como Ronald Reagan, na presidência da República, quando quis levar a saga da Star Wars, de George Lucas, com seu programa de defesa que levou o nome de Guerra nas Estrelas – que, aliás, não saiu do papel; Arnold Schwarzenegger, herói astro americano que fez carreira nos EUA e elegeu-se governador da Califórnia; e outros. No caso de Trump, ele não vem do mundo das ilusões, e sim do mundo real governado pelo poder financeiro, que, inversamente, está criando um personagem para algum papel cômico em Hollywood, bem diferente do lendário presidente Abraham Lincoln. Não se fazem presidentes como antigamente, inclusive na democracia do Tio Sam.

Donald Trump, numa só semana, deu canetadas que destruíram e jogaram na lata do lixo dois grandes acordos comerciais. O primeiro foi o North American Free Trade Agreement (Nafta), tratado que envolve Canadá, México e EUA e o Chile como associado, numa atmosfera de livre comércio, com custo reduzido de mercadorias entre os três países. Esse tratado vigorava desde 1 de janeiro de 1994. Em despacho no salão oval da Casa Branca, Trump deixou o tratado achatado e nada redondo, pois irá revê-lo. Os governos do Canadá e do México estão com um belo abacaxi pela frente.

Em seu primeiro dia na Casa Branca, Trump, com uma canetada, também acabou com a Parceria Transpacífico (TPP), o mais importante acordo internacional assinado pelo ex-presidente Barack Obama, destinado a estabelecer bases para as relações comerciais e econômicas de 12 países do Oceano Pacífico, que reduz tarifas e estimula o comércio para impulsionar o crescimento. Os países signatários são: Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Singapura, Estados Unidos e Vietnã. 
 
Gilson Marcio Machado gilsonmmachado@hotmail.com
São Paulo

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